terça-feira, 27 de maio de 2008

Sim! Existe preconceito lingüístico

Normalmente quem ouve pessoas de classes mais simples trocarem planta por pranta, chiclete por chicrete, logo os julga como caipiras ou incultos. O que poucos sabem, é que trocar o “L” pelo “R” é um fenômeno chamado Rotacismo. Inclusive, em alguns trechos de “Os Lusíadas”, obra clássica, de Luís de Camões, entre outros exemplos, encontramos: “E não de agreste avena, ou frauta ruda” (canto I, verso 5). Lendo parte de uma obra tão aclamada, chamaríamos Camões de inculto?


De acordo com o escritor e professor universitário Marcos Bagno, em seu livro “A língua de Eulália”, depois que legiões romanas conquistavam um território, este recebia o nome de província, para onde eram enviados muitos cidadãos romanos, como pequenos soldados, agricultores e artesãos. Gente simples que não falava o latim clássico da alta sociedade, e sim, um latim descomplicado, flexível e prático, que recebeu o nome de latim vulgar. Foi esse, que os habitantes originais das terras conquistadas aprenderam, afinal, o contato com a língua clássica era raro. E a partir das lentas transformações do latim vulgar surgiram dez línguas chamadas de românicas, entre elas o italiano, o francês, o espanhol e o português.


Assim como o latim, o português também tem suas variações. Norma-padrão é um modelo ideal que deve ser usado pelas autoridades, pelos órgãos oficiais, pelas pessoas cultas, pelos escritores e jornalistas e é aquele que deve ser ensinado e aprendido na escola. Já o português não-padrão é transmitido de geração para geração. É um patrimônio lingüístico que é compartilhado no convívio com a família, amigos e com pessoas da mesma classe social.


Para demonstrar que o Português não-padrão é diferente e não errado, Marcos Bagno dá o exemplo da história de palavras como: igreja, Brás, praia, frouxo e escravo. Onde havia um “L”, que se conservou em francês e em espanhol, transformou-se ao longo dos anos em “R”:





Para a fisioterapeuta Luana Fontes, era um pesadelo ouvir sua mãe falar palavras como broco e grobo. Hoje, entende que a mãe, por não ter freqüentado a escola aprendeu o português falado pelos seus pais. “Se passo uma semana na casa do meu avô, falo da mesma forma. Não tenho mais preconceito com a minha mãe, é uma herança difícil de mudar”, Diz Luana. “Para mim, já é uma grande vitória ela ter aprendido a falar Mc Donalds, ao invés de Mac Donalds”, completa.



Marcos Bagno afirma que, tendo conhecimento das diferenças que existem entre as duas variedades de português, talvez pudéssemos perceber melhor as dificuldades de um aluno que tem de aprender a variedade padrão. “Se todos compreendessem que o português não-padrão é uma língua como qualquer outra, com regras coerentes com uma lógica lingüística perfeitamente demonstrável, talvez fosse possível abandonar os preconceitos”, diz Bagno.

10 comentários:

Allan Jones disse...

Muito bem postado! Ótimo texto, bom tema e muito bem articulado. Não é porque é minha amiga, mas o texto ta excelente. Gostei muito. Não conhecia este fato.
Parabéns Ana Lívia!

Alessandra Mara disse...

Ficou bom, só acrescentaria mais do seu ponto de vista e menos do Marcos Bagno. Afinal a matéria é sua. Gostei muito dos links e das fotos! Este assunto há muito tempo está em debate entre os linguistas e gramáticos, quero ver quem no final conseguirá mudar a visão do outro.

Priscila disse...

Lívia, adorei o seu texto. Os links e as fotos estão excelentes. O texto está super bem feito, mas concordo com a Alê quando ela diz que você deveria ter exposto mais o seu ponto de vista.
Mas ficou ótimo de qualquer forma.

Parabéns...
Beijinhos..

Ana Lívia Mendes disse...

Meninas, agradeço muito pelos comentários, esse texto demorou muito para sair..rs. Sobre colocar a minha opinião eu não achei pertinente. A matéria é jornalística, quis que a opinião ficasse por conta do leitor. Eu só quis mostrar um pouquinho da história, que para mim, antes de ler o livro, era desconhecida.
Beijo para vocês.

Ivana Souza disse...

Lívia,seu texto ficou muito bom. Não conhecia este fato e agora irei pesquisar sobre esse tema tão importante. Parabéns...
beijinhos...

Nathália Fernandes disse...

Adorei o tema! Os links são bem elaborados e as duas primeiras fotos, de certa forma, hilárias. Muito bem escrito. Já conhecia esse assunto pois tenho família que mora em Minas e falam exatamente assim, e realmente, há o preconceito. Parabéns! Bjo

Adriana disse...

Lívia, gostei muito do seu texto...Um tema interessante e bem legal, tudo a ver com você. As fotos ficaram ótimas e os links bons. Bjs

Raquel disse...

Lívia,
Muito boa matéria. O assunto é curioso e relevante ao mesmo tempo, uma vez que trata de nuances da nossa língua. Seu texto é excelente, as fotos e a tabela ficaram muito boas e você antendeu quase todas as exigências do exercício. Parabéns!
Você também acertou quando optou por não ressaltar seu ponto de vista no texto, uma vez que se trata de uma matéria jornalística. Nestes casos, o repórter deve sempre procurar ser o mais isento possível, deixando que os leitores tirem suas próprias conclusões.
O link para o seu e-mail na assinatura da matéria não funcionou, assim como o terceiro link incluído no texto. No primeiro link há o problema da falta de identificação do site que pode levar à falta de credibilidade. Você também poderia ter feito alguma referência no texto sobre a foto da fisioterapeuta. Nota 2,5.

Raquel disse...

Lívia,
Apenas para constar: hoje o terceiro link abriu e a opção está correta, uma vez que apresenta explicações detalhadas sobre o que significa a norma-padrão.

Claudia disse...

Fiz uma atividade para a disciplina Leitura e Produção de texto com o tema Preconceito Linguístico.
Seu blog esclarece vários pontos em relação ao tema.
Um abraço.