quinta-feira, 30 de outubro de 2008

À espera para amar

Por Keroley Monteiro

A ansiedade dos pais que preparam a vida para acolher outra é constante. Depois de conhecer o pequenino, a esperança aumenta em telo por perto. Mas a burocracia do processo de adoção faz com que os futuros "papais" fiquem ansiosos durante anos. A espera parece cada vez maior, e a vontade de leva-lo embora do antigo lar é presente.

A fila para adoção no Brasil é extensa. Dados do Cadastro Nacional de Adoção, criado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), mostra que existe uma criança para cada 16 pessoas ou casais registrados. Ao todo são 2000 pretendentes para 200 crianças. Alguns adotantes esperam na fila de três a quatro anos, sendo que a burocracia para habilitação dura em torno de seis meses. O que torna mais longo o tempo de espera são as exigências dos interessados. A preferência é por meninas com até dois anos de idade, da cor branca e saudável. Segundo o cadastro, a maioria das crianças disponíveis são meninos de pele parda, entre nove e treze anos.

Sem muitas exigências a artesã Fátima de Oliveira, 30 anos, adotou o Fernando quando ele tinha dois meses de idade: "Eu queria tanto ser mãe, e como não posso engravidar a adoção foi o melhor caminho para que eu consegui-se realizar o meu sonho. Achei que seria mais difícil adotar porque sou solteira, mas isso não foi impedimento", contou Fátima. Depois de esperar seis meses na fila, apenas com a condição de que fosse um menino, menor de um ano de idade e saudável, a futura mamãe recebeu o grande telefonema: "Quando a Assistente Social ligou e disse que tinha um menino de dois meses de idade para eu conhecer, fiquei louca de ansiedade. Quando vi o Fernando me apaixonei, imediatamente perguntei se poderia leva-lo para casa. Hoje sou a mãe mais feliz do mundo, vivendo ao lado do meu moreninho", relatou a nova mamãe.

O comportamento de Fátima não é incomum. Segundo a psicóloga Aline Valadares, 26 anos, do Lar da criança Padre Cícero, os adotantes chegam ansiosos para conhecer a criança que foi encaminhada a eles: "Alguns pais chegam no lar, e logo depois de conhecer a criança querem leva-la para casa", afirma a psicóloga. Mas crianças com idade acima de dois anos devem passar por quatro estágios de adaptação antes de ir para a nova casinha:"Os adotantes podem visitar a criança no lar, com uma autorização do Juizado, depois sair para passear, passar o dia e quando estiverem mais adaptados podem passar o final de semana com pernoite", enfatiza a especialista. Essa adaptação é necessária para resguardar os pequenos e os futuros "papais".

A espera para a adoção é tão cansativa, que algumas pessoas recorrem a métodos ilegais para fugir da fila. Os pais biológicos entregam a criança aos novos "papais", que registram o pequeno como se fosse filho, nascido do adotante. De acordo com o artigo 242 do Código Penal, esse procedimento é crime, punível com reclusão de dois a seis anos. Nesse caso a adoção não é segura, porque o registro do cartório pode ser cancelado a qualquer momento, dando aos pais consangüíneos o direito de recorrer a justiça para reaver a guarda do filho. Já a adoção regular garante judicialmente a guarda dos pequenininhos adotados.